MARTA (WIKIMEDIA COMMONS) |
Até quando o futebol feminino será subvalorizado pela mídia?
As duas seleções foram convocadas na semana passada, mas o time masculino teve dez vezes mais publicações. Por quê?
Torneios distintos e reflexos permanentes. A menos de um mês da Copa do Mundo de futebol feminino, apesar da conquista de transmissão televisiva, patrocínios e campanhas, ainda é grande a diferença de repercussão e visibilidade da seleção em relação ao futebol masculino.
Diferença que ficou evidente na última semana, quando aconteceram as convocações dos times da Copa do Mundo de futebol feminino e também para a Copa América de futebol masculino. As duas competições acontecem nos meses de junho e julho e, apesar do Mundial ter um peso maior que o torneio continental, a Copa América ganhou mais espaço nas coberturas e repercussão que a seleção feminina.
Segundo o levantamento feito pela plataforma de inteligência artificial Stilingue, foram feitas apenas 1.340 publicações e interações sobre a convocação da Copa feminina, enquanto a masculina chegou a 14 mil, considerando sites e redes sociais.
O resultado reflete a cultura e os hábitos do brasileiro, que já é acostumado a consumir produtos do futebol masculino, mas, historicamente, rejeita a prática e o envolvimento das mulheres com o esporte. Mesmo com uma atenção maior para a cobertura, o espaço que as jogadoras têm na mídia, no fim das contas, ainda é bem inferior. Consequentemente, o interesse do público, também.
Maria Marta, 60 anos e aposentada, ficou surpresa ao perguntarmos se ela sabia quem são as jogadoras que vão disputar a Copa do Mundo. “Não sabia nem que esse ano vai ter Copa do Mundo”. Ou seja, apesar dos investimentos da CBF para o crescimento e visibilidade da modalidade este ano, a informação ou até conhecimento é diferente quando relacionada à masculina. Ao falarmos de Tite, Maria recordou até o nome de alguns jogadores. “Eu vi passando na TV que o Neymar vai jogar no Brasil novamente.”
Diferença nas coberturas
Assumindo o compromisso de acompanhar a Copa do Mundo de futebol feminino, os canais esportivos da TV brasileira naturalmente cobriram a convocação. Mas, enquanto a reportagem da convocação feminina ocupou de 5 a 10 minutos dos noticiários, a convocação da Copa América gerou debates contínuos nas mesas redondas, com questionamentos sobre Neymar e a idade dos jogadores até a Copa de 2022. Reflexos do contexto histórico do Brasil, onde a ausência de equidade entre os gêneros no esporte resulta nas barreiras de visibilidade do futebol feminino.
Campanhas necessárias
O olhar inferior das pessoas no futebol feminino ainda é o fator que interfere na falta de investimento da mídia.
Com esse mesmo viés de igualdade midiática para o futebol feminino, a Cervejaria Ambev fez uma ação de marketing para estimular outras empresas a também apoiarem a luta pela valorização das jogadoras brasileiras, para além da simples propaganda ou notícia.
O Guaraná Antártica é a única empresa a patrocinar tanto a seleção masculina quanto a feminina. E produziu nas últimas semanas fotos e vídeos sem seu logo, com lâminas de barbear, produtos de beleza, capas de revistas, entre outras. Para que as marcas possam utilizar e promover o futebol feminino como o masculino. A ação gerou repercussão e mostrou a necessidade de apoio para uma maior igualdade midiática.
Fornecedora dos uniformes da seleção feminina, a Nike tem desenvolvido uma série de ações para popularizar o futebol feminino nas ruas. O Grupo O Boticário está incentivando os funcionários a acompanharem as partidas da Copa do Mundo.
Ações necessárias e que tocam exatamente no que está faltando: que a mídia e os patrocinadores vistam a camisa e lutem pela causa do futebol feminino, que vai além de ser transmitido e noticiado. Nossas jogadoras precisam de valorização, reconhecimento e condições dignas de trabalho.
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